UM PRETEXTO PARA FALAR DE ABSTRACIONISMO, REALISMO, ART BRUT E POP ART
Desde o início do século XX, sobretudo após as descobertas artísticas de Kandinsky, fundamentadas pela teoria, que surgiram vários artistas com o intuito de explorar uma via que, à primeira vista, lhes surgia como um campo inesgotável de criação artística. De facto, desde 1910, até ao fim da Primeira Grande Guerra Mundial, a abstracção tinha sido a palavra de ordem.
Nos anos que se seguiram ao armistício, muitos pintores começaram, deliberadamente, a abandonar a abstracção, agora conotada como especulação estética. Subitamente, a ênfase posta nos aspectos puramente formais pareceu-lhes duvidosa, espécie de afastamento consciente das responsabilidades dos artistas para com a sociedade, uma recusa da constatação dos abusos de poder. Neste âmbito surge um tímido mas importante retorno à figuração no sentido de representação de uma realidade mais ligada ao mundo exterior, em detrimento de uma espiritualidade que desde o início das vanguardas se havia privilegiado.
Sentindo-se herdeiros de um renovado humanismo, os artistas utilizaram os meios mais expressivos de modo a desmascarar os horrores de uma guerra atroz. De facto, para este fim, a abstracção não fazia qualquer sentido, pois o objectivo premente seria o de mostrar um estado emotivo condicente com a realidade que agora se deparavam. Com efeito, estes artistas sentiram-se imbuídos de um espírito missionário profundo: evitar que qualquer guerra semelhante se voltasse a reproduzir. Foi neste panorama que se deu um amplo regresso ao realismo dos inícios dos anos 20, como é exemplo artistas como Beckman, Casorati, Campigli, Schlichter, Otto Dix, entre outros.
Contudo, o regresso da abstracção volta com todo o seu fulgor inicial nos anos de 1940, sobrevivendo ao obituário de duas décadas anteriores. D e facto, esta espécie de “renascimento” representou um tardio triunfo pós revolucionário mas que durou pouco tempo. Ao contrário do primeiro pós guerra que exaltara o realismo, depois da Segunda Grande Guerra o abstraccionismo surge envolto num “antídoto” apto a combater um realismo assente no campo de batalha. Neste sentido, os artistas ao retomarem o abstraccionismo rendiam-se, de certo modo, não ao espiritual mas, a uma tensão não-objectiva, não-figurativa em que o signo não poderia ser algo de verdadeiro através do qual todos deveriam acreditar. É neste seguimento que José-Augusto França nos fala de uma crise semântica da expressão abstracta, como se o signo entrasse de facto em rota de colisão com a realidade, realidade essa que por seu lado não correspondia a uma verdade, que agora surgia sob a forma da crueldade. Este não poderia ser o fim da história, e quando não, então falamos de uma crise que representa uma espécie de esgotamento das vanguardas artísticas: a realidade assim criada como uma abstracção não tinha mais relação com a realidade representada do que tem um quadro inteiramente abstracto.
Os artistas perceberam então que, aquilo que não assumimos existir, pode também ser real ou seja, quando em 1942 surge um pintor, remetido nos primeiros anos da sua carreira ao anonimato, com o objectivo de se dedicar a uma realidade “outra”, que não fosse nem nova, nem abstracta, mas sim uma realidade que buscava o seu referente no “outro”, efectivamente, esquecido nas psiquiatras ou nas camas de hospital ou ainda nas brincadeiras das crianças, Dubuffet não poderia adivinhar que estaria, de certo modo, a solucionar a “crise semântica” que se tinha submetido a arte. Com efeito, estava inaugurada a “Art Brut” emanada das profundezas do homem e da natureza, reabilitando o trivial, se bem que de uma forma diferente da “Pop Art”, porque não ridicularizava as novas formas de vida do homem, mas simplesmente tentou descobrir-lhes poesia, renegando a todo o problema do “Homo Aestheticus e a toda a sofisticação envolta na pseudo-erudição dos homens das artes.
Estava dado o mote para que uma arte reflectisse a sociedade de consumo e a toda uma cultura de massas representada pelo termo “Pop” cunhado pelo crítico de arte Lawrence Alloway em 1954. Este termo não significa somente a aglutinação da expressão “popular” ela remete-nos para todo o aspecto trivial da banalidade, como uma irritante alegria de viver. Da “pop” inglesa destaco nomes como Richard Hamilton, Allen Jones e Peter Philips, sendo que da americana destacam-se Roy Lichtenstein, Claes Oldenburg e Andy Warhol, entre outros.
AUTORA: ASSUNÇÃO MELO
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